O historiador da filosofia diferente do filósofo visa os pressupostos pertinentes ao contexto de origem de uma fonte literária. Ele não visa com o ler a obra de um filósofo constituir uma sua filosofia. Porém, antes compreender o senso comum. O que é que viam os contemporâneos de Platão para que fosse necessário escrever diálogos assim, todos eles permeados de referências a cultura dos helenos e a vivência dos atenienses e estrangeiros aos quais Sócrates se associava para dialogar. Assim, são as crenças comuns, isto é, os pressupostos culturais, antes linguístico, o que permite o diálogo entre contemporâneos.
sábado, 14 de dezembro de 2019
terça-feira, 22 de outubro de 2019
Um
Somente um é o necessário
Dois é o possível
se o mesmo é o que sente e o que pensa,
então o que conhece é uno em ato,
mas se o divide, então, duas linhas,
dá-se origem a duas potências,
cujas respectivas atividades
produzem duas obras (erga),
o coração e a visão,
a mente e a sensação
Dois é o possível
se o mesmo é o que sente e o que pensa,
então o que conhece é uno em ato,
mas se o divide, então, duas linhas,
dá-se origem a duas potências,
cujas respectivas atividades
produzem duas obras (erga),
o coração e a visão,
a mente e a sensação
sábado, 29 de junho de 2019
Dia desses
Quão insípida a poesia
de um tempo
que tão antigo morreu...
Quando não traz a tona
uma vital'essência,
qualquer chão e movimento,
sol-sombra,
uma árvore encantada
onde jaz o pássaro
cujo chilro preludia a flor,
noite-nuvem de céu e luzes,
as deslumbrantes peles que vestes,
a cor ou cheiro,
a voz ou corpo inteiro,
a paixão,
o afeto a símbolo
ou a efectual presença...
qualquer nome ou coisa
que retire a alguém
da monótona evidência:
o tédio eterno
de todo presente que não o seu.
O teu não é senão o que te dá o Outro.
O eu é o que verifica-O,
e sem o Outro nem o "eu", nem o "é".
de um tempo
que tão antigo morreu...
Quando não traz a tona
uma vital'essência,
qualquer chão e movimento,
sol-sombra,
uma árvore encantada
onde jaz o pássaro
cujo chilro preludia a flor,
noite-nuvem de céu e luzes,
as deslumbrantes peles que vestes,
a cor ou cheiro,
a voz ou corpo inteiro,
a paixão,
o afeto a símbolo
ou a efectual presença...
qualquer nome ou coisa
que retire a alguém
da monótona evidência:
o tédio eterno
de todo presente que não o seu.
O teu não é senão o que te dá o Outro.
O eu é o que verifica-O,
e sem o Outro nem o "eu", nem o "é".
quarta-feira, 13 de setembro de 2017
Sobre a Infâmia, projeto de uma nação
A única coisa propriamente social hoje, além daqueles que cuidam de seres humanos: a rede com que nos tragam e ao mar, ao céu, as matas, aos índios não contatados, e se deixar arrebatam-nos, isto é, alienam-nos ainda o sopro, o sol e as estrelas.
A divisa "Ordem e Progresso" se tornou a mais abjeta entre todas que conheço e sinônimo de crime ou de brasil ou de cinismo ou de patrocínio forçado da degradação ou voto... É com verdadeiro asco que a oiço.
O sistema eleitoral brasileiro é o pilar do maior fenômeno de corrupção visto na história deste planeta. Os impérios babilônios e romanos são pequenos diante deste gigante. Sempre foi a terra da oportunidade. Pequena mostra ou porque nos vedam o acesso ao paraíso.
Ouro profano é a única riqueza do verdadeiramente miserável e infame, em torno dele se reúne a corja e a ganga de suas violentas paixões para adorá-lo como a um ídolo informe e insípido.
O casa nova é o novo dono da casa grande. Vão salvá-lo novamente os seus, para receber o que lhes deve. Deixava uma bandeira assim de LUTO, ou a velha-nova divisa longeva: "tudo acaba em pizza".
quinta-feira, 7 de setembro de 2017
Uma Guilda
A propósito de uma foto do Grito dos Excluídos, postada pela amiga M. F.
O bom é sindicalizar e reunir mesmo em guildas ao invés de sindicatos, sem chefes, só os trabalhadores mesmo. Porque quem trabalha não pensa em direitos sociais como regalias. Quem trabalha é que deve saber o quão duro é vender um terço de sua vida a interesses alheios, e nunca são só as oito horas de jornada diária, mas uma lógica em que se perde todo o dia entre sair de casa e voltar para ela fatigado. Quem vive nessa situação compreende o que é um vencimento mínimo no qual é extorquido a cada dia, e que o trabalho nestas condições não paga nem a sobrevivência em uma cidade. É esse trabalhador que ganha um mínimo que constitui a grande massa de trabalhadores, a quem se quer retirar aposentadoria e todos os outros direitos, para entregar-lhes a situações como ter alguém de negociar aos 50 anos um emprego com um patrãozinho, já obsoleto para a grande máquina como é toda a tecnologia que o senhorzinho mercado lança a cada dia. É tanta coisa às avessas que se defende "o empreendedor", era empresário antes mais o nome ficou depreciado, e ao "gestor", porque político virou sinônimo de corrupto, o latifundiário grileiro e desmatador de florestas, ao político que o grande atravessador das transações financeiras, os grandes banqueiros, os privatizadores, e tudo aquilo que favorece a grande máquina às custas do que se aliena a vida. Quem precisa de capataz quando se tem a burguesia? O mercado não gosta da palavras governar ou coisa pública, prefere gestão da coisa alheia e bulevares a praças públicas, planos de saúde a saúde pública. Uma coisa posso dizer, se não houvesse SUS essa hora não estaria vivo. O burguês que quer ser atendido como patrão critica o funcionalismo público porque é arcaico e tem que pegar senha e o "funcionário" não entrega logo o que ele quer. Como querem que instituição qualquer funcione corretamente se de cima a baixo nós sabemos como funciona: o estado é um gerente de banco para o "agro" e a grande indústria, a religião é política, o lazer é o mercado, a "justiça" é a chancela do crime, e a sociedade civil atordoada pelas discursos essencialmente contraditórios da grande imprensa, dorme.
domingo, 3 de setembro de 2017
Cliché
Estava no fluxo
a remar
pus-me abaixo
o fundo mar
para fundir
até rimar
quantas chamas
suficientes
revolvessem
as coisas
hoje fósseis,
inda que antes vivas,
em grande incêndio
sem precedentes.
Noites quentes e frias
lua alta, sol a pino
longe vi um menino
de quem te rias
e consigo ele
de um torpe
que me censurava
por brincar com a trupe
de nobres sóis.
Juntos em uníssono
àquele homem
envilecido
vós retrucáveis:
olho cru, vil &
encanecido
que de tão faminto
ao sol eclipsa!
E a mim tocava o siso
retinindo e disse:
Se a mim quiseres
como os céleres
a ocupar as cortes,
que o raio piedoso
os parta!
Ralhem entre si
como quiséreis.
Prefiro a minha sorte
e no olhar das crianças
vislumbrar os seres
em seu vivo aceno.
Imaginação não troco
pela técnica,
que já nasce tão obsoleta
quanto as opiniões,
nem tomo mera política
por boa ação.
Tutti cos'è efêmera.
Para arte, divino mister,
não basta a boca sincera?
O que diz ela?
O que o coração sente?
Que é que
a inteligência reflete?
E isto, se é que isto era,
quando o som não havia
e a luz inda não percutira
o oceano compassivo
e vasto
com seu expansivo traço?
O filósofo pasma.
Sua mente não para,
cisma.
O que era "isto"
antes que multidões farfalhassem,
antes que de cosmo
e poeira e plasma
as coisas se revestissem?
Ó quão imortal
se torna o inacessível à notícia!
Sem igual,
a noite lhe em face uma carícia.
Ribeiro raro
mergulha em si
antes de raiar o dia
Não vá tua língua
colada à sola
do infortúnio.
Por isso acorda
e te afasta
até o âmago...
O ouvido estala.
O sol ergue a cortina.
Assim acordo...
Das partes discordantes
e desconcertadas
em abismo
e em litígio
a si olvidadas,
em comum,
embora isso não baste,
têm as opiniões
particulares
ou privadas.
Dá-se o caso a discordar de si
e assim com qualquer um concordar
ainda que aparentemente
não se diga o mesmo.
As suas opiniões as têm
por únicas e independentes,
embora, alquebradas,
sejam símiles infames
ao enorme acervo
das humanas vilanias,
destas sorte de quaisquer coisas
que às gentes interessa.
De tudo isto
que é como nada,
já não me ocupo mais.
a remar
pus-me abaixo
o fundo mar
para fundir
até rimar
quantas chamas
suficientes
revolvessem
as coisas
hoje fósseis,
inda que antes vivas,
em grande incêndio
sem precedentes.
Noites quentes e frias
lua alta, sol a pino
longe vi um menino
de quem te rias
e consigo ele
de um torpe
que me censurava
por brincar com a trupe
de nobres sóis.
Juntos em uníssono
àquele homem
envilecido
vós retrucáveis:
olho cru, vil &
encanecido
que de tão faminto
ao sol eclipsa!
E a mim tocava o siso
retinindo e disse:
Se a mim quiseres
como os céleres
a ocupar as cortes,
que o raio piedoso
os parta!
Ralhem entre si
como quiséreis.
Prefiro a minha sorte
e no olhar das crianças
vislumbrar os seres
em seu vivo aceno.
Imaginação não troco
pela técnica,
que já nasce tão obsoleta
quanto as opiniões,
nem tomo mera política
por boa ação.
Tutti cos'è efêmera.
Para arte, divino mister,
não basta a boca sincera?
O que diz ela?
O que o coração sente?
Que é que
a inteligência reflete?
E isto, se é que isto era,
quando o som não havia
e a luz inda não percutira
o oceano compassivo
e vasto
com seu expansivo traço?
O filósofo pasma.
Sua mente não para,
cisma.
O que era "isto"
antes que multidões farfalhassem,
antes que de cosmo
e poeira e plasma
as coisas se revestissem?
Ó quão imortal
se torna o inacessível à notícia!
Sem igual,
a noite lhe em face uma carícia.
Ribeiro raro
mergulha em si
antes de raiar o dia
Não vá tua língua
colada à sola
do infortúnio.
Por isso acorda
e te afasta
até o âmago...
O ouvido estala.
O sol ergue a cortina.
Assim acordo...
Das partes discordantes
e desconcertadas
em abismo
e em litígio
a si olvidadas,
em comum,
embora isso não baste,
têm as opiniões
particulares
ou privadas.
Dá-se o caso a discordar de si
e assim com qualquer um concordar
ainda que aparentemente
não se diga o mesmo.
As suas opiniões as têm
por únicas e independentes,
embora, alquebradas,
sejam símiles infames
ao enorme acervo
das humanas vilanias,
destas sorte de quaisquer coisas
que às gentes interessa.
De tudo isto
que é como nada,
já não me ocupo mais.
sábado, 26 de agosto de 2017
Pindorama
Pois todo animal é dirigido a pastar por um golpe (B11),
como diz Heráclito - πᾶν γὰρ ἑρπετὸν πληγῇ νέμεται
Assim a citação se realiza plenamente em um contexto estranho ao de origem deste aforismo. Para nós é o mesmo que celebrar a compreensão deste asqueroso antro que se tornou o receptáculo dos falsos representantes dos falsos interesses, eleitos pelo voto. Olha que coisa mais suja! A multidão é aviltada na alma e no bolso e segue alienada pela propaganda e pelo excesso de informação, pelo governo e golpe que lhe dera aos meios de subsistência. Enquanto isso uma parcela mínima da população reina encastelada em suas dívidas, sempre perdoadas, pouco ou nem sequer tributadas, o por fora, a especulação, o jeitinho, toda a série de litígios para sustentar aqueles que não possuem qualquer outra riqueza que o dinheiro. Querem substituir os funcionários públicos, precarizando ainda mais sua carreira por operadores de mercado, e tornar o cidadão circunscrito ao consumidor... de serviços e supérfluos.
Somente
nesse formato é possível a alguém como Paulo Henrique Amorim dizer tantas
coisas como em uma síntese. Estes pensamentos coincidiram com os meus nestes
últimos meses, culminado em apoteose catastrófica por ocasião do ainda agora repente de privatize-se tudo. O
melhor neste diálogo do comunicador com o sociólogo são as intertextualidades com as recentes obras publicadas pelo Jessé
Souza. Veja-se a Elite do Atraso e a reportágem
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/a-elite-tem-uma-relacao-de-convencimento-com-a-classe-media-para-saquear-o-pais-diz-o-sociologo-jesse-de-souza/.
De repente se disse tudo o que eu pensava a respeito do sociólogo de
desonrosa memória e o pensamento doméstico da classe média brasileira. Acho que
foi a maior vergonha pela qual tive de passar quando, simplesmente ainda se
podia fazer uma graduação - porque universidade pública já dizia uma
porcentagem incrivelmente alta entre as pessoas que eu conheço, "coisa
pública no Brasil não presta", e tive de ler aqueles livros sobre teoria do
desenvolvimento da América Latina, e foi me crescendo uma certeza muito
desconcertante de tão simples sobre a política entrega-a-lista brasileira.
Avaliação geral que faz Miriam Leitão sobre os anúncios nefastos: "estado
é um peso para a empresa". Já decretaram a falência mútua dos órgãos da
republiqueta brasileira, para poder eviscerar-lhe enquanto seu sangue e tecido
ainda tenros, podem ser coletados e trasladados. Ou podíamos decretar o fim do
estado brasileiro, e fundar-lhe outro, com outro nome, pois Brasil soa e sabe
demasiado a extrativismo. Não há democracia sem cidadania, nem cidadania sem
prática e participação efetiva na vida das instituições civis. O ato de votar,
tal como fazemos segundo o modelo representacional, é coisa mais ociosa que
poderíamos fazer, sendo algo acessório em relação a instância de verdadeira
decisão política: a Assembleia. O que a história mostra é que o poder não pode
ser delegado. Oras, já não é cabível falar em nome de qualquer um ou por
outrem, pois isto é leviano. Se está presente que fale como cidadão, em nome
próprio; se está ausente, por que é que está ausente? Anda cultuando o mercado?
Pois se pudesse descartava o mercador, a mercadoria e o mercado como
fantasmagorias que encenam um perigoso jogo na mente do vulgo. O estudante de
metafísica olha para essas coisas e se surpreende com as coisas que ouve:
"o mercado hoje acordou de mau-humor", "a confiança do mercado
retornou...", e pensa consigo: até onde eu sei "o mercado" não
pode ser um sujeito lógico, muito mesmos algo existente, portanto, enquanto
seres humanos não é para nós nem substância, nem qualquer das essências
conhecidas. No máximo poderia ser um nome vago para a classe de pessoas que totalmente
alheio ao poder público que emana como uma soma das potencialidades de cidadãos
livremente reunidos, o que equivale ao estado civil em ato. Como diante esta
perspectiva teriam iguais direitos que os outros, excetuando-se os indivíduos
corporativos internacionais, para que isto lhes aproveita? É necessário então
que assassinem o estado, para que como indivíduos dotados de poder econômico,
possam gerir empresarialmente a vida dos outros. Recorde-se o resultado desta
visão na psicologia das massas. Mas se o estado não é senão uma abstração para
a soma dos cidadãos reunidos, afinal a quem é que assassinarão?
E eu um
estudante de metafísica, preso na malha histórica que é a memória, vi-me
obcecado pela ideia de política, e só pude ser purificado de tão infame sanha
que se arrosta a fazer política para as próprias mãos, ou de seus familiares e
conhecidos íntimos do dinheiro especulativo e que se arroga a função, posto que
não é um título que te habilite subtrair das rendas brutas sua alíquota de
perene existência, as tais malas que forma a praxe política dês a década de 80.
Sem falar nos sucessivos golpes que moldaram a mentalidade de quem transparece,
precipitadamente, diga-se de passagem, as opiniões “políticas” com ares de suma
síntese e importância, pois já se sabe que a “multidão é governada a golpes”,
com aquela imagem russa e européia, a do açoite. O capataz, o senhor do
engenho, porque o nordeste inventou o Brasil, o que os estrangeiros a esta brasílica
virtude alheios não conseguiram nunca compreender. E formaram-se os monopólios
familiares favorecidos pelo estado à custa do contribuinte que paga forçoso
imposto sobre tudo o que de riquezas e ganhos ele gera. Nesse contexto, como
diz Paulo Henrique Amorim, a quem reconheço, conjuntamente com o discurso da
presidente Dilma, o préstimo de me exorcizarem com seus discursos e as
referências acertadas, podendo-se dizer então proféticas por parte da chefa de
estado – há quem a censura por não falar bem – logo ela que predisse tão bem, clara
e serenamente, como nunca se viu falando coisas sérias o que iria ocorrer daí em
diante. Ela exibe formalmente a característica de um sábio que, porque sabe,
pode prever (vide Protágoras no Teeteto
de Platão, 151e-184b). Enquanto ouvia aquele frisson ressoante a clareza,
eivado de tons de que se reveste a verdade – a lucidez que as palavras
despertam quando dizem o que acontece ou há de acontecer. Todas estas coisas
ditas entrelaçavam-se a calcular causas concernentes ao contexto e a situação
de pilhagem e chacina das chances de o Brasil vir a ser algo bom para a sua população
e não para uma meia dúzia de desalmados que legislam sempre para si e por conta
própria, pois faz tempo que no âmbito dos poderes temporais não há isenção, mas
sim uma clientela. Ora escolhe-se o lobby para as empresas privadas que
financiam a campanhas políticas, para a seguir receberem o investimento dez ou mil
vezes mais o que investiram, em tantas isenções, perdões às dívidas dos bancos,
empresas automobilística, de mídia, de industriais, de pecuaristas, de leite e
pão de queijo mineiro, a bossa carioca, os grandes empresários e industriais
fabris, “chefes de multidões”, e a todo capital financeiro especulativo que se
possa imaginar, empresas tarja laranja, grandes sonegadores, dadas a falir após
alguns anos de lucrativas empresas, calcule-se! Tudo isso com o que se possa
negociar alguma lei, alguma obra que arraste consigo novo elefante branco,
quaisquer vantagens que se sigam a quantos contos com que se faz a fábula e o
folclore político brasileiro. Pitoresca e fantasticamente inacreditável aos não
iniciados. É uma fauna feroz, como diziam os colegas da biologia, essa tal de
classe política de representante de nadie.
O Brasil é uma pátria folclórica sem um mito fundador. Havia que se reinventar
em outra coisa, sendo narrada essa transformação por um Macunaíma, a
desventurar as tramóias e os chiliques da classe média em outras coisas mais
sãs e proveitosas. Levar-se-ia em conta a face da pobreza, linguagem com que se
entendem o norte e o nordeste, e a cara feia e cinza do sudeste, os concretos
armados e estas coisas mortas, e os verdes pastos a perder de vista a um
Colosso de Rodes, e o sul que sabe a tomadores de chá. E estas coisas se
enclavinhando, de tão bem cosidas pareceu-me espantosamente a mim pensando tais
coisas, ainda que seguissem distintas ordens e direções elas combinavam quanto
ao teor, e os vários elos se acoplavam tão significativamente como se supunha,
As palavras e as sentenças coincidiam elipticamente ampliando-se a volta que o
pensamento dá às coisas ouvidas, e referem-se de vários ângulos à mesma coisa,
uma abstração chamada Brasil. Pobre e as veias abertas a jorrar diversas cores.
Terra mítica, verdadeira Canaã. Pindorama invadida. Pindorama conquistada.
Pindorama saqueada e finalmente liquidada. Marco temporal: 517 anos e o Brasil
passa a si descoberto. O rei MORREU! Morte ao rei! Ele é o pai da fome e da
miséria. Vão evadir as divisas em malas flutuantes para o atlântico norte, por
um gasoduto pelo qual também escoará o betume pelo qual tanto se mata e morre.
Um a um, os países mais frágeis emocionalmente do continente sulamericano
sucumbem ante a propaganda do holograma neon com que se escreve american way of
life, totalmente sem apelo para qualquer ouvido e sujeito a desdém enfadado para
lá dos limites territoriais da Brasilia Terrae. E, no entanto, este é o élan com
que se cosem os sonhos da classe média brasileira. A cada herdeiro do que não
havia, ou então me mostrem o Adâmico testamento, seria então concedido um feudo
e seus vassalos, o Dono da Casa Grande e o capataz, e com isso tudo o que se
segue, a sujeição de uma porção populacional de almas. É preciso dizer que um romano
ao pensar o seu político, o via como a cabeça do corpo civil, e não há maior
ultraje que governado pela vil e infame fome de poder daqueles que por natureza
são destituídos de qualquer característico político, que é pensar o público,
não como quem o quer a custas de outrem e sempre lhes alienando, tomá-lo de
assalto. Isso eu tenho visto desde que nasci. Não há nada mais óbvio dentre as
coisas que possa hoje reconhecer como sabido. Gente também é uma Casa, digna.
Já se sabe que os chineses já compram grandes áreas em territórios
internacionais. Alguém sopra, advertido já de um ano, que finalmente se
consolidará a privataria, e o mercado se põe nervoso. “Compre-se” tudo. Hoje é
dia. Esperem a poeira baixar, raposas velhas. Amanhã as instituições são os
últimos títulos do tesouro à venda. As terras, os minérios raros, as florestas,
os aqüíferos, a petrolífera, a fauna, a flora, os povos, enfim, os últimos
itens liquidados para a farra do boi em sacrifício dos trabalhadores e as
gentes pobres que o mais das vezes coincidem. Calculem a massa que o mercado,
este monarca, despreza. Boibumbá Bumbameuboi!
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